quarta-feira, 28 de julho de 2010

Cansado de faina

Quando olhei nos teus olhos pude entender tudo o que esqueceu de me dizer. Era de sentir com os olhos e chorar com a alma. Uma doença que contaminou tudo o que eu achei que sabia com certeza,  de um modo tão fatídico que não haveria como restaurar. Abalou ferozmente a noção de realidade e me fez repensar. Algo que não já não era tão bom. Mas então eu vi e ouvi. Que por mais que doesse, eu não poderia vê-lo se desintegrar diante de meus sentidos sem fazer nada para mudar isso. Tinha de lutar e de gritar, mais alto que antes, mais alto que tudo. E só então percebi qual era a verdade. De que nada realmente alcança certa plenitude, sem que vc ache que isso não é mais possível. Sem que seus sentidos se entorpeçam e que consiga ver além do que espera, não há mérito.


terça-feira, 27 de julho de 2010

Concha de caracol

Incontáveis retalhos
Migalhas que a muito já não são mais
Espana se das impurezas comuns
Cega se diante das que realmente importam
A mim já não convence, mas
Apenas mais uma vez conte-me sobre o mundo
E deixe-me para trás, para um talvez ou nunca mais


segunda-feira, 26 de julho de 2010

Debaixo da luz da lua, pérolas brilhavam envoltas em desolação.


O brilho prateado da lua banha e pacifica um calor obscuro, de dentes e garras afiadas e sedentas por uma nova vítima. Garras como unhas de um carmim intenso. Dentes de um brilho incomum, com a mesma brancura exibida por um cetim já meio usado. Pro seu deleite esse o esfolam, o sugam e ganham. Não sente nada.
 Sabe que deveria pedir socorro, sentia-se tragado pela renda negra, mas não pode. É execrado de sua existência, mas não precisa existir, não agora. Sabe que mais tarde se sentiria tolo por tudo, sabia que se culparia, e pior ainda, culparia a terrível sedutora, mas o que há de fazer?  Seu salto agulha espetou seu orgulho. Não tem nome. A dignidade, é como um mal drenado de suas veias, assim como a vontade própria. 
Então ela levanta e sai, num furor doce meio amargurado. Larga-o sozinho, os restos de seu ser espalhados pelo chão, arrasta-se e procura pelos seus cacos. Não encontra nada. Tenta levantar mais é demais. Não tem como conseguir, tudo o que tinha lhe foi tirado, e ele não resistiu. Entregou tudo de bom grado, sorrindo para os olhos da vilã enquanto essa aplicava o golpe final, sem nenhuma misericórdia. A lembrança da doçura atormenta, mas o faz seguir em frente. 
Acordou no meio da noite e se lembrou do tortuoso sonho. Então sentou e chorou. Ela gostaria, mas não era aquela mulher, e ele não era aquele homem. A vingança do sub-consciente a fez se sentir atormentada. Raiva misturava-se com o choro amargo que agora corria pela sua face carregando a última de suas forças. Não precisava mais se esforçar. Era um só um sonho, um sonho sobre a vida dela. E de alguma forma isso a libertou. 
Quando conseguiu abrir os olhos novamente, estava vendo a si mesma de loge, de muito longe. Então tudo ficou escuro de novo. Um brilho de paz lampejou diante de seus olhos, por apenas um momento e se foi.

domingo, 25 de julho de 2010



Palavras para mim podem ser como uma droga, forte e insana, semente de prazeres.
Em um momento de fissura, embebedo-me nelas e me perco em mil viagens com todas as cores do preto e branco. Em outros momentos são fugas, desses lugares para o rotineiro e constante mundo real, ou então o inverso.
Essas que me fazem tua serviçal, escrava de seus anseios, me salvam a memória e então enterrada em mil loucuras bruxuleantes da insanidade instantânea de querer e se atrever a ver um novo mundo, como um lugar melhor ou não. Um lugar onde escrever basta.

sábado, 24 de julho de 2010

Lição de ressurgir, reeguer


Recomeçar. Verbo bonito, cheio de sonoridade e esperança, acalenta o coração dqueles que vem de longe, dos que já estão a muito cansados, e de todos os outros. Ciclos sempre se inclinando  para uma ritmada canção.
As vezes um belo recomeço, como aquele dos folhetins, parece ser a saída mais digna. A única solução provável. Porém quem quer recomeçar deix de lado sua própria estória, reescreve seu passado. Vestido de personagem pueril se torna oblíquo demais, calculado demais, cansado demais.
O único recomeço possível é aquele que não existe. É aquele onde o começo não é forçado, ele realmente está ali, um começo de vida. Não tem como ser recomeço se anda trás as impressões guardadas no peito. Abandonar a si mesmo e renegar emoções é o mesmo que retirar o próprio coração e deixá-lo na esquina anterior. Impossível, doloroso e desnecessário. 
Não há recomeço verdadeiro, do mesmo modo como não se vive sem um coração. Ridículo desvairado. A identidade de como somos, do que queremos ser, é exatamente isso, nossos ímpetos e escolhas feitos no presente ou em outrora. Não há verdade naquilo que é premeditado. Não existe um recomeço real, pois não existe um abandono da essência, pois é exatamente isso o que ela é, o que resta quando tudo se esvai.