sábado, 5 de junho de 2010

Tão profunda quanto uma poça de água da chuva



Queria ser grande, e ainda assim morria de medo de se perder em sua solidão. Morria de medo de viver tão intensamente quanto o possível, tanto que se depois, por algum motivo, fosse privada disso não aguentaria. Seria sufocada até as cinzas.
Mas o que ela não percebia que era exatamente por tudo isso que estava desse jeito. Já não podia mais agüentar. Era o seu agora que estava em jogo, e não poderia apenas sentar em sua confortável poltrona da alienação e assistir ao maravilhoso espetáculo de sua vida cair no esquecimento derradeiro.
Começou pelas pequenas coisas. Pequenos pensamentos intrusos e cheios de vida, aos poucos , começaram a domina-la. A cada velho hábito que se perdia, perdia-se junto um pouco daquele antigo "eu", empoeirado, velho, sujo, cheio de manchas. Então surgiu uma grande transformação. A vontade de viver aflorou. De repente não sentiu-se mais tão cansada quanto o de costume. A vontade de gritar o mais alto possível lhe consumia o pulmões. O fato de ser mais uma na multidão não mais lhe esmagava, a sua individualidade era algo mais profundo do que a fama e as capas de revistas, antes tão almejadas. O anonimato a fazia aflorar. A cada sorriso verdadeiro era como um tapa na cara do conformismo, antes seu melhor amigo.
Até que um dia percebeu que já era possível olhar pro mundo e encontrar seu lugar. Foi nesse dia que percebeu que era feliz. Uma felicidade faceira, meio clandestina, com cara de doce de abóbora em formato de coração. Simples e lisonjeiro. Então mais uma vez sorriu. E pela primeira vez em muito tempo - provavelmente em toda a sua vida, ela se sentiu plena.

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